POSTAGENS

domingo, 2 de setembro de 2012

Quebra de Xangô : 100 anos de intolerancia no Brasil .





Dois de fevereiro de 2012 não é só dia de festa para Iyemonja. Este ano também é de memória de dor e luta.
Há cem anos, em dois de fevereiro de 1912, ocorria uma das maiores violências sofridas pelo povo de santo no país. O ‘Quebra de Xangô’, na cidade de Maceió (estado de Alagoas), foi liderado por veteranos de guerra e políticos. Eles invadiram, depredaram e queimaram os principais terreiros de Xangô da cidade, espancando líderes e pais de santo dos cultos afros. “Muitos foram pegos de surpresa e apanharam pelas ruas até chegar à delegacia, na calada da noite. Outros tiveram a oportunidade de fugir para estados como Bahia, Pernambuco e Sergipe”, assegura o professor de História e pesquisador Célio Rodrigues, o “Pai Célio”, um dos grandes difusores da religião de matriz africana no Estado. Ainda segundo Pai Célio, o movimento tinha um forte viés político com o objetivo de afastar do poder o então governador do Estado, Euclides Malta, que já administrava Alagoas por 12 anos seguidos e era considerado um amigo dos líderes religiosos massacrados.
“Foi uma perseguição ao governador Euclides Malta, que tinha ligação com os terreiros e havia recebido até o título de papa do xangô alagoano, o Soba. O interessante é que Euclides era um fervoroso católico”, conta o historiador, médico e vice-presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Alagoas (IHGAL), Fernando Gomes. Para Gomes, o episódio do Quebra de Xangô teve grande importância para apressar a renúncia de Euclides Malta, que aconteceu em 13 de março de 1912. “Em 12 de julho de 1912, Clodoaldo Fonseca, figura de relevo nos quadros do Exército e primo-irmão de Hermes da Fonseca, é empossado governador, juntamente com o vice José Fernandes de Barros Lima”, completa o vice-presidente do IHGAL.
Na época do ‘Quebra’, o movimento que desencadeou a postura intolerante contra a religião de matriz africana contou com o apoio da imprensa oposicionista, notadamente o Jornal de Alagoas. Nos trechos de seus artigos e matérias, termos pejorativos sempre eram direcionados ao governador por este se relacionar com os xangôs. Na série de matérias intituladas “Bruxaria”, publicada nos dias consequentes ao episódio, a suposta relação de Euclides Malta com os xangôs denota a mãe de santo Tia Marcelina como sua “feiticeira” protetora.
Tia Marcelina, segundo os historiadores, foi a fundadora do candomblé em Alagoas e a então mais famosa mãe de santo do Estado, tida como espécie de mentora espiritual do governador Euclides Malta. De acordo com os relatos, ela teria resistido à invasão de seu terreiro e recebido golpes de sabre – espécie de espada – enquanto lutava contra o ataque. A líder negra não resistiu e morreu meses depois.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

POSTAGENS MAIS VISITADAS